Quando comecei a prática de yoga profissionalizante, eu estava apenas interessado nos benefícios físicos. Afinal, seria uma desculpa para aprimorar o equilíbrio e ganhar resistência – ambos importantes para quem vive num ambiente competitivo e muitas vezes estressante. Confesso que dei pouca atenção às aulas de meditação, mas notei os efeitos dessa prática no meu desenvolvimento profissional.
Já conhecia os efeitos da meditação no aumento da capacidade de concentração (Slager e colegas, “PLoS Biology”, 2007). Também sabia de estudos prévios conectando a pratica da meditação com redução da pressão arterial (Scheneider e colegas, “Circulation”, 2009). No entanto, tinha a impressão que os efeitos só seriam aparentes depois de longos anos de prática.
Doce ilusão. Um trabalho recém-publicado promete agitar essa linha de pesquisa ao mostrar que 16 voluntários que seguiram práticas de meditação durante meia hora por dia apresentaram alterações físicas notáveis no cérebro após 8 semanas. Regiões relacionadas com memória, aprendizado, empatia e estresse foram significativamente alteradas (Holzel e colegas, “Psychiatry Research”, 2011).
As imagens cerebrais foram capturadas por scanner MRI e mostraram aumento da massa cinzenta no hipocampo (região relacionada com memória e aprendizado) e redução na amígdala (relacionada com ansiedade e estresse) depois do treinamento. Essas são alterações fisiológicas reais, determinadas por métodos conhecidos em neurociência. Interessante notar que não houve alteração na ínsula, uma região do cérebro responsável pelo reconhecimento e atenção de si próprio. Os autores especulam que um treinamento maior poderia alterar essa região também.
A meditação escolhida pelos cientistas não tinha nenhuma relação religiosa, é conhecida como “mindfulness meditation”. Esse tipo de meditação tem como meta eliminar qualquer preconceito de sensações e sentimentos durante momentos de introspecção. A ideia da prática é focar em objetos visuais ou mesmo sensações ou respiração, evitando a dispersão da mente e prestando atenção na resposta do corpo.
Obviamente o cérebro humano é bem complexo e fazer a ligação entre essas alterações e uma melhor qualidade de vida não é simples. Um outro estudo demonstrou que praticantes da meditação ativam de forma diferenciada regiões do cérebro relacionadas com empatia ao ouvir sons de pessoas sofrendo (Lutz e colegas, “PLoS One”, 2008). Mas o que isso realmente significa? Teriam eles mais compaixão? É realmente difícil determinar causa e consequência nesse tipo de experimento em humanos.
De qualquer forma, é possível extrair duas grandes lições desse trabalho. Primeiro, o cérebro é muito mais plástico do que os cientistas imaginavam a 5 ou 10 anos atrás. Leva-se mais tempo para alterar músculos do que o cérebro. Segundo, a forma como nos sentimos (calmos, estressados ou ansiosos) é seguida, ou pelo menos correlacionada, com indicadores estruturais reais em nossos cérebros. A distância entre a mente e o cérebro ficou menor.
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