Saindo do Automático

Hoje eu estava lendo uma reportagem da “Prana Yoga Journal” intitulada “Saia do Automático”, de Cristiane Tabarelli, e pareceu que ela tinha sido escrita para mim. Ontem mesmo eu estava conversando sobre esse processo: o sair do automático, e de como as coisas podem virar rotina, mesmo quando você ama fazê-las; e temos que ficar atentos para que a rotina não se instale em nossas vidas, pois aí tudo vai perder a “graça” e o efeito benéfico que aquela ação tinha em sua vida passa a não existir mais.Pois bem, todos procuram aulas de Yoga como uma forma de acalmar a mente de ter uma maior consciência corporal, de melhorar a respiração, o alongamento, e principalmente buscando um autoconhecimento maior (pelo menos algumas pessoas). Os motivos são muitos, cada um com o seu, diante das suas experiências de vida e realizações, mas sempre com um enfoque positivo de melhora e crescimento.

Minha contribuição neste aspecto do automatismo é o seguinte: Dou aulas de Yoga durante a semana toda, e até chegar na aula o ritmo é bem acelerado, tipo sair do trabalho correndo e pegar trânsito intenso até chegar no local no horário certo e tranqüila para estar com meus alunos, proporcionando a eles aquele momento de paz, tranqüilidade, encontro consigo mesmo e com seu corpo de forma serena e confortável.

(Vamos combinar que dar uma aula não é o mesmo que fazer uma aula. Um professor tem que estar atento para os ajuste, correções, estado emocional dos alunos, atitudes, sinais, enfim, o que ocorrer. O que não significa exatamente um relaxamento para o professor. Isso ele só tem no momento da sua prática pessoal.)

Mesmo amando dar aulas com todas as minhas forças, depois de 4 anos neste pique... PUFF!! Instalou-se a rotina. As horas de estudo ficaram cada vez mais escarças. O prazer em dar aulas foi sendo substituído por algo cansativo e obrigatório...hummm, alguma coisa estava bem errada ali. O trabalho durante o dia, as aulas durante a noite e algumas atividades fixas durante os finais de semana estavam me deixando tonta. Tonta? Sim, tonta, aquela pessoa que está perdida, que perdeu o seu eixo, o contato com o Ser Real em algum ponto do caminho se perdeu, e eu não percebi. Juro a vocês que este era o meu pensamento e... como pensamento é força, eis que me surge uma labirintite! Tipo, seu desejo é uma ordem. Perdida mentalmente, tonta fisicamente.

Não sei se os grandes professores de Yoga, ou mestres passaram ou passam por isso, mas eu, bem, eu estou só no comecinho do caminho. Engraçado, e não tem nada de engraçado nisso, é que comecei a achar que as pessoas iriam me julgar com frases do tipo “Você, professora de Yoga, com Labirintite”. É , eu realmente não estava bem. Pouco importa o que os outros pensem, isso é problema de quem está pensando, não meu, eu tinha que ME CURAR daquela labirintite. Daí então passei a fazer o tratamento físico, uma vez que a doença física estava instalada no corpo, e também a fazer o tratamento energético; mas ainda faltava uma coisa, e na verdade a principal de todas: A MUDANÇA DE ATITUDE.

Sabia que se não mudasse, poderia até ficar boa da labirintite, mas ia aparecer algo mais forte para me alertar da necessidade de minha mudança de atitude. A minha alma estava mandando o sinal (a doença), EU teria que tomar a atitude. O ego teria que se curvar ao inevitável. O apego em fazer 300 coisas ao mesmo tempo teria que ser contido.

Mas deixar de fazer o que? Amo tudo que faço (amor ou apego?). Ok.... tem uma coisinha que não aaammmo taaanto assim, mas esta (o trabalho, aquele de carteira assinada e que paga as contas do final do mês) eu não poderia deixar. Sejamos práticos, por enquanto esse não dá!

O medo de dar um passo atrás, porque para mim, deixar de dar aulas para diminuir o ritmo era dar um passo atrás, uma vez que eu tinha encontrado a minha vocação. Se eu fizesse isso, estaria dizendo ao universo que não tinha certeza do que queria. Não poderia! Continuaria naquele ritmo até onde agüentasse.

Tolinha, mal sabia eu (e o pior é que sabia) é que a energia em torno daquele pensamento já estava ao meu redor, era a vontade de “dar um tempo” a energia que eu passei a emitir para o universo e para o meu próprio corpo.

Para encurtar a história, forças misteriosas, ou o destino, ou a vida, ou o universo, ou a misericórdia divina, deram um jeito de diminuir meu ritmo. Acho que a mudança ainda foi pouca, mas parece ter sido significativa para a minha cura, tanto física quanto energética.

E que bom que o universo não deixou que eu fosse “até onde aguentasse”, eu definitivamente não estava praticando Ahimsa (não violência) um dos princípios do Yoga, não estava praticando Satya (verdade) comigo mesma; não estava praticando Asteya (não roubar), pois estava roubando de mim o direito de parar para descansar; não estava praticando Aparigraha (o desapego), estava vendo as coisas como minha posse (minhas turmas, meu trabalho); nem mesmo estava praticando Brahmacharya (não disvirtuar a energia criadora), pois estava gastando o triplo de energia para me manter em uma situação que não trazia mais nenhum benefício para meu Ser.

Como professora de Yoga sempre digo aos meus alunos para não se compararem com o colega, ou com esse ou aquele, e eu mesma estava dizendo que se fulano pode ter um ritmo de trabalho “daqueles” quem era eu para não agüentar a pressão!? Não estava enxergando os meus limites!! Hoje, não acredito que consegui não ver o que estava acontecendo, ou até vi, mas não tive a coragem para mudar.

Pensando nisso, confesso que me emociono, porque percebo o quanto o Yoga é generoso comigo, como sou grata de ter podido aprender mais uma lição. De como passar por este processo está me tornando uma professora melhor, e que na verdade eu não dei um passo para trás, dei um para frente. Dar 4, 8, 16 aulas de Yoga por semana não faz de mim uma professora melhor, ou pior, mas dar essas mesmas 4, 8, 16 aulas e não respeitar os meus limites, com certeza não faz de mim uma Yogini.

Não ultrapasse seus limites, mantenha-se no seu caminho, mas não se machuque toda para conseguir alcançar algo que você pode alcançar de uma maneira mais suave. Pelo menos não faça isso quando você perceber que este está sendo o seu padrão. Muitas vezes não percebemos o piloto automático sendo acionado, mas quando perceber: observe, avalie, planeje, mude e seja feliz! Se você não fizer isso, o universo fará... e ele pode estar de mal humor na hora que fizer, então: SE LIGUE EM VOCÊ! Cuide do outro, mas cuide primeiro de você!

Lição aprendida e compartilhada.

Namastê!

Um comentário:

Anônimo disse...

MUITO VERDADEIRO. PASSO POR UMA CRISE DE LABIRINTO, E SEI QUE ELA É APENAS UM SINTOMA. TRATA-LA REQUISITA IR ALÉM DOS PALIATIVOS MEDICAMENTOSOS. É DESCOBRIR/ADMITIR O QUE NECESSITA SER MODIFICADO E... APRENDER COM A EXPERIENCIA. ÓTIMO PARA ISTO É A PRÁTICA DO YOGA. ÓTIMO TEXTO. VOU TOMAR COMO LIÇÃO.

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